"A campanha para as eleições Presidenciais de 23 Janeiro último, e o respectivo acto eleitoral que conduziram à reeleição de Cavaco Silva, já lá vão! Mas a votação expressiva no candidato eleito, e sobretudo as respectivas “consequências”, teremos que aguardar para as conhecer, em pormenor. Sim, em pormenor, porque muito se pode, desde já, adiantar. Em 1º lugar a “vitória” da abstenção. Contudo a abstenção não engloba aqueles que não querem contribuir para a decisão? Que deixam os outros decidir por eles? Há que respeitar o eventual sinal de protesto, mas que conduz a alguma alteração?
Recomeçando então pela votação expressiva em Cavaco Silva: - Os Portugueses estariam assim tão satisfeitos com o seu desempenho no 1º mandato? Contentes com uma magistratura de silêncios? Com os “famosos alertas”(de que tanto se gaba Cavaco) relativamente à crise, que nem demos por eles? O que evitou o Sr.Professor de Finanças? Que aumentasse a dívida pública, que aumentasse o desemprego, que fossem retirados direitos sociais? Evitou que a austeridade penalize os mesmos de sempre? Evitou que aqueles que auferem grandes vencimentos passem quase sem dar pela crise? Não, os Portugueses não são masoquistas, não gostam de sofrer e sentir, cada vez mais, as suas vidas a andarem para trás. Ah esquecia-me! Da feroz crítica de Cavaco durante a campanha eleitoral, à redução dos salários dos funcionários públicos, depois de ter promulgado a lei. A isso chama-se o quê? Pelo menos, hipocrisia! Mas os Portugueses serão ingénuos?
Como é possível que, passados 36 anos do 25 de Abril, um candidato de direita reúna mais votos que todas as outras 5 candidaturas? Cavaco Silva não ganhou apenas com os votantes do PSD e CDS/PP. Então e todos os outros? Mas os Portugueses não são críticos, não pensam por si? É fácil manobrar uma grande faixa do eleitorado e levá-los a ter suspeitas e desconfiança? E os factos, mais que reais, comprovados do BPN e das acções da SLN do Prof. Cavaco, que tanto o ofenderam, como se mentiras se tratasse, não puseram os Portugueses a questionar?
Por outro lado, há que reflectir sobre os resultados da candidatura de Manuel Alegre. Sempre tive a opinião que Manuel Alegre, que apresentou a sua candidatura sem quaisquer apoios partidários, se devia manter como tal, como em 2006. É certo que o BE e o PS expressaram os seus apoios mais tarde, e que o candidato não devia/podia recusar, mas isso, só o prejudicou. Porque, sendo Manuel Alegre o mesmo, defendendo os mesmos princípios e valores, um Homem livre, como a sua vida recente e passada demonstram, logo as outras candidaturas intoxicaram o povo colando Manuel Alegre ao Governo e ao PS, tentando e pelos vistos, conseguindo, que os Portugueses desconfiassem não ser genuíno, aquilo que sempre, sempre defendeu, antes e pós o 25 de Abril, e tentando-o responsabilizar pelas medidas de austeridade, algumas pondo em causa a justiça social, tomadas pelo Governo PS.
E o Partido Socialista o que fez? Apoiou formalmente a candidatura de Manuel Alegre, mas a sua participação activa na campanha eleitoral foi muito insípida, só acompanhando o candidato… E pelo país, pelos concelhos, pelas freguesias? Muito pouco se viu e sem força anímica, sem garra, sem entusiasmo. Na nossa região, até foi insólito! A carta da Federação do Baixo Alentejo do PS, mobilizando os militantes do PS, chegou às suas caixas de correio no último dia de campanha. Isso mesmo, dia 21 de Janeiro. Perante os resultados eleitorais, teremos que concluir que: o PS ajudou Cavaco Silva a ser reeleito, pela ausência de mobilização e porque não afirmar: com votos, muitos votos. Mas que ironia! Na noite eleitoral o candidato reeleito foi extremamente hostil com os adversários e nem se afirmou o Presidente de todos os Portugueses. Isso corresponde à estabilidade, também falada nessa noite?
Foi assim! O PS contribuiu para a direita estar mais perto de realizar o seu sonho: um Presidente, uma Maioria, um Primeiro-ministro. As consequências, essas serão sentidas pelo Povo, quando o estado social for mandado às malvas. Mas que importa isso? O Povo já está habituado a viver mal, (dizem vergonhosamente alguns), o que interessará será a manutenção dos “lugares quentinhos”, nem que para isso se tenham de encostar ao PSD."
Eugénia Alho
Ex-deputada do Partido Socialista
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